quarta-feira, setembro 19, 2007

o síndrome bolo de arroz


o bolo de arroz é aquele bolo que insiste em estender a mão e apresentar-se de cada vez que nos cruzamos com ele, acidentalmente, num sítio público. estamos nós distraidamente a prescrutar uma montra, distraidamente à procura de uma doçura que nos cure os males de alma e lá está ele, com a sua gargantilha, o bolo de arroz, a gritar o seu próprio nome.

a faixa esbranquiçada com as letras azuis, garrafais, a gritar "olá, eu sou o bolo de arroz", "olá, eu sou diferente, eu sou o único bolo com uma gargantilha", "eu não me misturo com os restantes bolos", "ó para mim que só me dou com os queques". incomoda.

nós não queremos nada com ele. mas ele insite em apresentar-se, numa técnica de "eu tou-te a ver, eu sou o bolo de arroz, agora que já sabes o meu nome vamos passar à parte em que me comes".

a psicologia de algibeira, de rua, de esquina, a psicologia barata e de revistas, aponta-nos claramente para uma patologia: um fermentado complexo de inferioridade.
No meio de uma montra, os bolos calam-se. São as suas características que falam por si: o creme fala pela bola de berlim, a base estaladiça fala pelo pastel de nata, a consistência etérea das natas fala pelo duchaise.
mas o bolo de arroz sabe que é só farinha e ovos com açucar por cima. sabe que nenhuma das suas características conquistam. por isso grita. tenta afirmar-se. começa a agir de maneira diferente. a armar-se em parvo.

as pessoas que são como o bolo de arroz deviam saber que há mercado para a simplicidade. que há quem aprecie a reserva e a naturalidade. não se apetrechem de argumentos. não gritem. não façam palhaçada. nos bolos como nas pessoas cada um vale o que vale. ámen.

7 comentários:

Paula disse...

Eu acho que o bolo de arroz tem a legenda porque ninguém saberia que ele é de arroz sem a dita legenda. Não há lá nada que diga, "eu sou de arroz". A gargantilha não é para se armar ao pingarelho, é para se apresentar. Armar ao pingarelho seria se o bolo de arroz tivesse uma moeda como cartão de visita com a sua cara gravada na moeda no lado em que estaria a cabeça da rainha. E eu já vi isso e não foi num bolo.

pat disse...

quantas pessoas sabem oq leva um jesuíta? poucas. e não vez lá um lacinho a dizer bolo de massa folhada, gila e amendoas.

L. disse...

eu tb nao sei o que leva um jesuíta...

Anónimo disse...

O bolo de arroz não leva arroz assim como o pastel de nata não é um pastel e nunca viu natas.

toda a pastelaria portuguesa é
feita de logros. tão certo como não se venderem húngaros na hungria ou haver uma ordem religiosa a baptizar um bolo sem doce de ovos - gila !?

L.

bolacha disse...

o pastel de natas leva natas que eu já fiz, mas de facto não me parece que o bolo de arroz tenha arroz. não fui ver, mas esta noite já verifico no pantagruel.

e o bolo de arroz pensa "oprah, o que farias tu se tivesses que competir com duchaises? usavas uma gargantilha e saías à rua sempre engalanado?". o bolo de arroz claramente vê a sic mulher. e pelo menos não temos de trocar sms com o bolo de arroz para comunicar com ele. basta trocar uns olhares através da montra. e ele responde sempre.

Anónimo disse...

http://www.gastronomias.com/doces/doce0075.htm

natas?

Anónimo disse...

hahah está giro! :)
Por acaso acabei de comer um bolo de arroz (e foi a primeira vez)