sexta-feira, novembro 17, 2006

um dia quando menos se espera vemos um filme que nos restitui a fé

na beleza. uma fé que andava abalada depois de cerca de 6 filmes demasiado banais.
na cinemateca, na quarta.
fui sem nenhuma referência, só porque achei que mesmo sem fé, devia manter o hábito de ir à igreja.
a sala estava muito vazia. os maluquinhos do costume: o sr de 60 anos que anda sempre de calções, o sr que se manifesta (e que nesta sessão disse filhos da puta e o ciume, o ciume), um vagabundo de saco de plástico, que comeu rebuçados embrulhados em celofane o filme todo e nos fodeu o que podia ter sido uma sessão ainda mais do caraças.

realizador hal hartley - tipo que eu não conhecia mas que ao que parece foi alto cena no início dos 90 e perdeu-se.
título simple man - k.i.s.s. - keep it simple, stupid.
argumento mais ou menos: dois irmãos vão em busca do pai, um suposto terrorista que é na verdade apenas um anarca que vive demasiado segundo a cartilha, um womenizer que fugiu da família e da justiça. os dois irmãos: um duro, prático, enganado pela mulher e também ele a fugir à lei. outro mole, intelectual, a fugir ao aborrecimento. os dois uns bonitões improváveis dada a linhagem que nos é dada a conhecer. os dois com perfis de tanto faz, whatever, a minha vida é isto e não desejo mais nada, adn novamente sob dúvida.
acho que se pode dizer que é um filme de viagem: de nova iorque a long island, da dúvida à certeza (ainda que pessimista, é certeza).

Ned: I want adventure. I want romance.
Bill: Ned, there is no such thing as adventure. There's no such thing as romance. There's only trouble and desire.
Ned: Trouble and desire.
Bill: That's right. And the funny thing is, when you desire something you immediately get into trouble. And when you're in trouble you don't desire anything at all.
Ned:I see.
Bill: It's impossible.
Ned: It's ironic.
Bill:It's a fucking tragedy is what it is, Ned.

é a certeza da vida.

preferidos:
1. a falta de naturalidade dos diálogos, falsos, perfeitos, teatrais.

2. a falta de naturalidade dos actores: rigidos, académicos, pouco humanos, movidos por uma vontade que não é a sua (a do realizador, intencionalmente óbvia ?).

3. a coreografia: os sitios, os objectos, as pessoas todos manipulados e maquinalmente orquestrados.


4. os sobrepostos e entecortados (a la godard). aparece-nos a voz antes da imagem.

5. a música ambiente: a assombrar, desconfortável. e a música que está na acção, no mesmo plano que os actores. yo la tengo, sonic youth.

6. o fim. sobretudo o fim. depois de ter encontrado o pai, bill volta para o que achava ser o sitio onde ia passar o resto da vida e a mulher com quem ia fazê-lo (é quase um regresso do heroi) mas no momento em que, à frente da casa pousa a cabeça no ombro da mulher, ouvimos a policia, que já o perseguia há algum tempo. "Don't move" - dizem eles quando o senhor sabia que tinha mais do que assentado.

4 comentários:

Joni disse...

não vi o filme mas subscrevo a teoria.
escusavas era ter contado fim, certo?!?

pat disse...

sorry...

Paula disse...

Agenda Cultural, estás de volta!

Quem é que foi para blog alheio criticar o tamanho dos textos?

pat disse...

mil perdões. eu foi só achar-me com mais tempo e zás - texto grande.