14 de fevereiro
dia dos namorados e da disfunção erectil. apetece-me contar-vos a estória da minha única prenda do dia de são valentim.
foi uma carta e um boneco. um presente que ganha valor quando já descobrimos o nosso 1º cabelo branco, quando só sabemos escrever num teclado quadrado e os bonecos já partiram todos, para um saco velho no topo do armário que guarda os cadernos desde a 1ª classe.
tinha 12 anos, all star e nódoas negras. comia tostas no bufete e achava que ia fazer uma viagem à america quando tivesse 18 anos, uma mulher feita.
a prenda veio do gonçalo, do 6ºR, que depois de entregá-la fugiu a correr - clichè de teenage clumbsyness. um miúdo com dentes cor de laranja e caracois, que de resto andava sempre a correr (andávamos todos) e tinha a roupa rasgada. era o ínicio dos anos 90.
apesar de estar de paixoneta por outra pessoa (ricardo glória, porque é que te casaste com ela e foste ser fotografo para peniche) guardei bem a prenda. na gaveta de cima da escrevaninha - a dos segredos do coração e mais tarde dos cigarros.
li a carta muitas vezes. não decorei uma palavra. mas as letras eram bonitas, letra desastrada de rapaz que tem comida nos dentes.
o gonçalo morreu passados uns anos. leucemia.
e eu nunca mais recebi nenhuma prenda de dia dos namorados. porque quase sempre estive sozinha em fevereiro, raios para o ínicio de todos os anos desde 1982, ou porque nenhum namorado achou bonito dar prenda num dia criado para dar dinheiro à turquia e a outros países produtores de flores, de chocolates ou de discos pirata.
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